Tragédia no Alto Rio Içana: Mulher indígena e recém-nascida morrem por alegada negligência médica após cesariana

16/04/2025

Imagem: Reprodução / Notícias Usada apenas para fins ilustrativos

São Gabriel da Cachoeira (AM) — Uma jovem indígena do povo Koripako e sua filha recém-nascida perderam a vida em circunstâncias que sugerem suspeitas de negligência médica. Jucilane Garrido, da comunidade Warirambá, no Alto Rio Içana, faleceu no domingo (05.03), após complicações decorrentes de uma cesariana no Hospital de São Gabriel da Cachoeira, município do interior do Amazonas.

Em nota publicada, o Departamento de mulheres indígenas do Rio Negro  (DMIRN) lamentou o ocorrido e afirmou que o caso levanta suspeitas de negligência médica. O DMIRN também exige uma investigação  rigorosa por parte das autoridades competentes.

Após a nota emitida pela FOIRN, a direção do Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira lamentou a morte da paciente indígena, e disse que todos os esforços foram realizados para um desfecho favorável. Também disse que O desenvolvimento em saúde no Alto Rio Negro enfrenta inúmeras dificuldades características da região. O HGUSGC concorda com o posicionamento da FOIRN em busca de uma saúde cada vez melhor para nossa população. No ano passado, dos 1.347 nascimentos em São Gabriel da Cachoeira, 890 ocorreram no hospital, sendo quase todos de descendentes dos povos originários, a maior riqueza da Cabeça do cachorro.

Além da dor da perda, a família e a comunidade de Jucilane explicam que enfrentaram uma nova forma de violência: disseram que foram impedidos de sepultar os corpos no território de origem, onde seriam realizados os rituais tradicionais do povo Koripako. Se, por um lado, a recomendação sanitária era de que o sepultamento fosse feito na cidade; por outro lado, a negação fundamentada em normas da medicina não-indígena desrespeita a vontade expressa da família e viola o direito dos povos indígenas de conduzirem seus ritos de passagem conforme suas crenças e espiritualidade, explicam os familiares.

“Eu estou gestante, de nove meses, e não me sinto segura para ir ao hospital, pois com esses ocorridos tudo a gente imagina. São Gabriel da Cachoeira é um dos municípios mais indígenas do Brasil, e precisamos que as políticas públicas sejam de qualidade e que ofereçam segurança para todos”,  Janete Dessana, diretora da FOIRN e de referência da COIDI

“O sepultamento em território indígena é um direito. É parte das nossas tradições, da nossa espiritualidade e da nossa relação profunda com a terra. Negar isso é mais uma forma de violência contra os nossos corpos e modos de vida”, afirma a nota divulgada pelo DMIRN.

A nota termina com um apelo à solidariedade e à resistência: “Nos solidarizamos com a comunidade Warirambá, com os familiares e  todas as mulheres indígenas que continuam sendo silenciadas e desrespeitadas por um sistema que não reconhece nossa dignidade. Que a memória de Jucilane e de sua filha siga viva e fortaleça ainda mais a luta das mulheres indígenas do Rio Negro”, lê-se.

O caso que não é novo na região, expõe as barreiras enfrentadas por mulheres indígenas no acesso à saúde pública, incluindo o racismo institucional, a violência obstétrica e o desrespeito aos direitos culturais e espirituais dos povos originários.

Os povos indígenas do Rio Negro exigem justiça — por Jucilane, sua filha e todas as mulheres indígenas negligenciadas por um sistema que insiste em invisibilizá-