Encontro de saberes indígenas reforça a identidade e a preservação cultural no Alto Rio Negro

16/04/2025

Imagem: Abertura do evento na região waruá / Foto: Amanda Ladino

Entre os dias 25 e 28 de março de 2025, a comunidade Waruá, localizada na região CAIMBR do Alto Rio Negro, foi palco de um evento singular: o Encontro de Jovens, Mulheres e Conhecedores Tradicionais, um espaço dedicado ao resgate e fortalecimento dos saberes indígenas. Organizado pelo DMIRN/FOIRN em parceria com o ISA (Instituto Socioambiental), o encontro reuniu lideranças locais das comunidades balaio, Yamado, Waruá, Rio tiquié e São Gabriel da Cachoeira das etnias Tariano, dessano, tukano, baniwa, hupidah, Dâw, baré, Tuyuka e piratapuia. Profissionais da saúde também estavam presentes para uma troca de conhecimentos ancestrais e contemporâneos, com o objetivo de garantir a continuidade das tradições e fortalecer a identidade indígena na região.

O resgate dos saberes ancestrais
Com o apoio de curadores tradicionais e parteiras da região, o evento colocou em pauta a preservação de práticas como a medicina tradicional indígena e os rituais de benzimento. Durante o encontro, as práticas espirituais de cura – centradas no equilíbrio entre corpo, mente e espírito – foram compartilhadas com as novas gerações. As mulheres mais velhas da comunidade, guardiãs do saber ancestral, transmitiram seus conhecimentos às jovens participantes, garantindo que essas tradições continuem viva.

“É um orgulho imenso ver as novas gerações tomando posse desses saberes que nossos ancestrais nos passaram. A medicina tradicional, as rezas e os rituais de cura são um dos pilares da nossa cultura, e é fundamental que as jovens de hoje saibam como preservá-los para o futuro,” afirmou uma das parteiras presentes.

Profissionais da saúde contribuem com novos olhares
O evento também contou com a participação de profissionais da saúde, como uma psicóloga e uma enfermeira, que trouxeram palestras e contribuições para a troca de saberes. A presença dessas especialistas permitiu uma integração entre os conhecimentos tradicionais e as práticas modernas de saúde, discutindo como essas áreas podem se complementar para garantir o bem-estar das comunidades indígenas.

Os profissionais discutiram a importância de respeitar as práticas culturais no atendimento à saúde, além de apresentar novas estratégias para lidar com os desafios da saúde mental e física nas comunidades. O trabalho colaborativo entre saberes tradicionais e modernos se mostrou uma poderosa ferramenta para melhorar a qualidade de vida da população indígena.

A tecnologia como aliada, mas há desafios
Outro tema central do evento foi o papel da tecnologia na preservação cultural indígena. Se, por um lado, as novas tecnologias representam um desafio à continuidade dos saberes tradicionais, elas também foram reconhecidas como aliadas poderosas. O encontro discutiu como utilizar as ferramentas tecnológicas para aprender, ensinar e compartilhar conhecimentos, ampliando o alcance das tradições indígenas e facilitando o acesso à informação.

Imagem: Roda de conversa dos jovens durante a dinâmica interativa em waruá / Foto: Amanda Ladino

Fortalecimento da identidade e cultura indígenas
Através de rodas de conversa, palestras e momentos de reflexão, o encontro promoveu um fortalecimento significativo da identidade indígena. Os jovens puderam dialogar com os mais velhos e compreender a importância de serem os guardiões desses saberes no futuro. A troca intergeracional de conhecimentos é essencial para garantir que as culturas indígenas não se percam, mas se adaptem ao mundo moderno sem perder suas raízes.

Um exemplo foi a troca de vivências sobre a gravidez e o uso de plantas naturais para a saúde. Durante as conversas, foi relembrado também o impacto da covid-19 nas comunidades indígenas e como o conhecimento dos mais velhos conseguiu impactar e salvar a vida de milhares de pessoas em meio surto que impossibilitava eles de saírem de seus territórios para buscar ajuda. 

Ao final do evento, foi reafirmado o compromisso com a preservação cultural, com a convicção de que a união entre gerações é a chave para garantir que as tradições continuem a ser vividas e passadas adiante. O evento em Waruá deixou uma mensagem clara: a preservação da ancestralidade e da cultura indígena é um trabalho coletivo e intergeracional, que deve ser fortalecido a cada dia.

O futuro da preservação cultural

O evento realizado na comunidade Waruá representou um passo importante para o fortalecimento das comunidades indígenas do Alto Rio Negro, mas também trouxe à tona os desafios que ainda precisam ser superados. Como, por exemplo, o impacto da modernização e o avanço de grandes projetos de infraestrutura que são questões que continuam a ameaçar a preservação da cultural indígena. No entanto, encontros como este mostram que é possível resistir e fortalecer a identidade indígena, mesmo diante dos desafios.

Os organizadores do evento reafirmaram o compromisso de continuar a promover encontros como este, com a esperança de que cada vez mais comunidades indígenas possam fortalecer suas raízes, preservar suas tradições e, assim, garantir um futuro mais digno e sustentável para seus povos. 

A parceria entre organizações como o DMIRN/FOIRN, o ISA e as comunidades locais, aliada ao esforço coletivo de jovens, mulheres e conhecedores tradicionais, demonstrou que a preservação cultural é uma tarefa que envolve todos. Além disso, mostrou que, com união e respeito às tradições, é possível construir um futuro mais digno e sustentável para os povos indígenas do Alto Rio Negro.

Por meio de encontros como este, a esperança se renova. E as tradições indígenas continuam a florescer no coração das novas gerações.